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Título oficial da pesquisa

Nova medida do estigma interseccional entre travestis e mulheres trans no Brasil

 

Título fantasia

Manas II - Hair

 

Chamada /descritivo

A FCMSCSP em parceria com a UCSF realizou o projeto Hair, em 2022, em São Paulo. Este estudo teve como foco mulheres trans e travestis (MTTr) previamente inscritas no estudo Manas por Manas, com o objetivo de coletar e analisar dados quantitativos sobre medidas biométricas de estresse através da análise de amostras de cabelo. O projeto incluiu a aplicação de um questionário e a coleta de fios de cabelo, que estão sendo analisados para medir os níveis de cortisol.  A medida do cortisol no cabelo é importante porque oferece uma avaliação retrospectiva, de longo prazo e não invasiva dos níveis de estresse crônico. Ao analisar o cortisol presente no cabelo é possível obter informações valiosas sobre os padrões de estresse e seu potencial impacto na saúde física e mental dos indivíduos. A coleta dos fios de 100 participantes foi viável e aceitável e a análise do cortisol está sendo realizada.

Resumo

Introdução: No Brasil encontram-se bem documentadas inúmeras violações aos direitos humanos da população de pessoas trans e travestis. De acordo com a teoria de Estresse das Minorias, grupos socialmente marginalizados possuem maiores índices de depressão, ansiedade, uso de substâncias, ideação suicida e tentativas de suicídio. Atualmente, tem sido testado análise de cortisol em amostras de cabelo como uma biometria para doenças crônicas e estresse em diversos contextos, mas ainda não abrange significativamente a população de pessoas trans. A medição do cortisol no cabelo é importante porque oferece uma avaliação retrospectiva, de longo prazo e não invasiva dos níveis de estresse crônico. Ao analisar os níveis de cortisol no cabelo, que refletem o período de vários meses, ela fornece informações valiosas sobre os padrões de estresse de um indivíduo e seu possível impacto na saúde física e mental. Para explorar a factibilidade e aceitabilidade desses procedimentos, realizamos um ensaio clínico com mulheres trans e travestis (MTTr) em São Paulo. Este estudo é orientado a partir de um modelo conceitual biopsicossocial combinado com o Modelo de Estresse de Minorias para ampliar a compreensão do estresse interseccional de minorias e como ele se relaciona com o comportamento de prevenção ao HIV entre MTTr no Brasil. Os objetivos deste estudo são coletar e analisar dados quantitativos sobre medidas biométricas de estresse, combinar as medidas e explorar como as medidas de estresse podem predizer o comportamento de prevenção ao HIV.

Métodos: Selecionamos aleatoriamente uma sub amostra de 180 participantes (MTTr), com 18 anos ou mais, do estudo "Reduzindo o Estigma Interseccional entre Travestis e Mulheres Trans no Brasil" (Manas por Manas), já aprovado pela CONEP. Destas, 143 foram convidadas, até atingirmos uma amostra-alvo de 100 participantes. As participantes foram recrutadas uniformemente a partir da intervenção (n=50) e do braço controle (n=50). As entrevistas e coletas de fios de cabelo foram realizadas entre abril e dezembro de 2022. As participantes foram contactadas pela entrevistadora por telefone, WhatsApp ou redes sociais, em pelo menos três tentativas de contato. As visitas do estudo incluíram: (1) introdução sobre a pesquisa com um vídeo informativo; (2) assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; (3) breve entrevista com aplicação da escala validada “Short Stress Overload Scale”, perguntas adicionais sobre cuidados com os cabelos que poderiam afetar os resultados da análise do hormônio do estresse; e (4) coleta de aproximadamente 40 fios de cabelo. As amostras de cabelo foram armazenadas usando protocolos validados e enviadas para análise. A média de duração das entrevistas foi de 60 minutos e as participantes foram reembolsadas pelas despesas de deslocamento. Para descrever a população, calculamos proporções para variáveis categóricas e mediana/intervalo interquartílico (IQR) para variáveis contínuas. Os resultados apresentados até então são complementados com anotações de comentários realizados durante as entrevistas. Foram definidas duas medidas primárias de estresse distintas e complementares: (1) a amostra de cabelo para testar os níveis cumulativos de cortisol e cortisona dos últimos seis meses; e (2) o breve questionário de estresse sobre os últimos seis meses. Foram avaliadas a aceitabilidade e a viabilidade dos procedimentos de coleta de dados. Atualmente, estão sendo analisadas correlações entre as medidas de estresse e o grau de associação entre as medidas de estresse e comportamentos de prevenção ao HIV.

Resultados: Recrutamos 143 pessoas das 180 amostradas (79%) e inscrevemos n=100 das recrutadas (70%), das quais todas concluíram as atividades do estudo. Das recrutadas, apenas 4 pessoas recusaram a participação devido à amostragem de cabelo. Outros motivos para a recusa em participar incluíram ter se mudado (n=7), falta de tempo (n=10), não ter interesse em participar da pesquisa (n=14) ou a perda de contato (n=12). As participantes entrevistadas tinham em média 34 anos (IQR: 26-40); 29% eram brancas, 32% negras e 39% parda/outra raça; possuíam renda média de R$1.150 (IQR: 500-2.000); e 81% tinham moradia estável. Dada a importância do cabelo na apresentação de gênero, era esperado que as MTTr poderiam ter preocupações ou hesitações específicas sobre o fornecimento de uma amostra de cabelo, mas a coleta dos fios foi viável e aceitável e a maioria das razões apresentadas para recusar a participação no estudo refletiu barreiras gerais à participação em pesquisas, que não eram específicas para a coleta de amostras de cabelo, como por exemplo: falta de tempo de participar, ou morar em outra cidade. Comentários das participantes durante as entrevistas indicaram que várias tinham interesse em medir seu estresse e a maioria identificou várias fontes: dificuldades em encontrar trabalho; problemas de relacionamentos, abusos sofridos pelos parceiros; dificuldades financeiras; discriminação vivenciada no trabalho ou ambiente de estudo; não aceitação de familiares de sua identidade de gênero, medo de ir até o local da entrevista e serem discriminadas; abordadas e confundidas com profissionais do sexo; medo de perder o trabalho e não ter como se sustentar; e preocupação com o futuro. A pandemia pelo Covid-19 também foi citada em algumas entrevistas, por exemplo, uma das participantes disse: "A pandemia veio pra destruir todos os sonhos das pessoas, eu quase não sobrevivi". Os resultados para a análise do cortisol e suas correlações e associações ainda estão em andamento.

Conclusão: A coleta de amostras de cabelo para medição de estresse foi viável e aceitável para as participantes. Concluímos com sucesso todas as atividades do estudo para o tamanho de amostra desejada e a maioria das MTTr recrutadas se voluntariou para participar. A maioria dos motivos fornecidos para a recusa da participação refletem barreiras gerais à participação na pesquisa que não eram específicas para a coleta de amostras de cabelo. A partir dos comentários das participantes temos a evidência preliminar de altos níveis de estresse, transfobia, e de que os efeitos da desigualdade social podem causar impactos emocionais reais. Mediante a aceitação do método por parte das pessoas entrevistadas, ressaltamos a importância de considerar a medição do cortisol no cabelo para pessoas trans e travestis para avaliar os níveis crônicos de estresse, monitorar intervenções em saúde mental, identificar disparidades de saúde, avaliar a eficácia de um tratamento e pesquisar o impacto de fatores sociais e interpessoais no estresse. Esse método pode fornecer uma medida objetiva dos níveis de estresse a longo prazo e auxiliar na elaboração de intervenções e políticas para melhorar a qualidade de vida de pessoas trans.

Palavras-chave

Mulheres trans, travestis, estigma interseccional, estresse, cortisol capilar

 

Período de realização

As entrevistas e coletas de fios de cabelo foram realizadas entre abril e dezembro de 2022, a análise do cortisol foi realizada em 2023.

Onde

Escritório do NUDHES

Público-alvo

Mulheres trans e travestis

Autores | Instituições

Sophia Zamudio-Haas, UCSF

Equipes de Campo

Entrevistadora - Paula Galdino Cadin de Carvalho

Aluno de Iniciação Científica – Antonio Alberto Moreira Moscatelli

Parcerias

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Universidade da Califórnia em São Francisco - UCSF

Fontes de financiamento

National Institutes of Health (NIH)

Situação atual

Análises estatísticas inferenciais dedutivas, como medidas de correlação e associação estão em andamento. Em fase de análise final dos dados e escrita de artigos.

Devolutivas

Serão realizadas após o fim da análise dos dados.

Publicações

Resumos apresentados em eventos científicos:

  • Trans Health Summit 2023/São Francisco: Feasibility and acceptability of hair sampling for monitoring stress among transgender women in São Paulo, Brazil

  • AIDS Impact 2023/Estocolmo: Feasibility and acceptability of hair sampling for monitoring stress among transgender women in São Paulo, Brazil

  •  9º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde/Recife: Estresse crônico em mulheres trans e travestis em São Paulo: Aplicação de novo método de quantificação de cortisol no cabelo

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