A campanha Setembro Amarelo foi criada em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). A proposta é dar visibilidade ao dia 10 de setembro, data que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Nós convidamos a médica psiquiatra e psicoterapeuta Maria Carolina para falar um pouco sobre o tema.
"Olá a todas,
O meu nome é Maria Carolina, sou médica, sou psiquiatra e terapeuta. Eu vim aqui falar um pouquinho sobre saúde mental.
E eu gostaria de começar justamente localizando o que é saúde mental. Uma questão importante é a gente entender o que difere estou triste = tenho depressão; estou ansiosa = tenho ansiedade; estou fazendo um regime = tenho anorexia; bebo álcool = tenho dependência de álcool; afinal, qual é o parâmetro usado pra gente diferenciar o que é saúde e o que é doença quando falamos de saúde mental?
Isso foi sendo mudado ao longo do tempo. Inclusive, a psiquiatria tem verdadeiras atrocidades na sua história. Se pensarmos que até 1972 nós tínhamos ainda a homossexualidade como diagnóstico psiquiátrico, é assustador entender como isso foi repercutido na história da psiquiatria. Porém, hoje em dia, a ideia filosófica que difere o que é saúde e o que é doença é a liberdade existencial. A doença seria a perda da liberdade de sermos quem nós somos. Então a diferença entre eu bebo para eu tenho uma dependência de álcool é que quando temos uma dependência, nós perdemos a liberdade de fazermos escolhas. Tenho ansiedade - ter ansiedade é normal. O transtorno ansioso é quando eu não consigo ter ansiedade, e isso vale para as doenças como um todo. Vejam que coisa bonita é essa compreensão de que saúde mental é, portanto, nós caminharmos e sermos mais nós mesmos. Se entendermos profundamente isso, vamos entender que buscar o cuidado de nós mesmos é buscar justamente aquilo que nos potencializa.
Existe um filósofo chamado Spinosa, que eu gosto muito, e ele fala que alegria é tudo aquilo que nos transforma de algo menos a gente para algo mais nós mesmos. Então eu gosto de pensar que, de alguma maneira, a saúde mental, dentro dessa busca pela liberdade, por sermos quem verdadeiramente somos, vai passar necessariamente pela potencialização da alegria. E é um pouco essa proposta, quase uma provocação, que eu faço aqui aqui para vocês hoje.
Como é que vocês tem cuidado da saúde mental de vocês? Vocês tem sido quem vocês realmente são?"
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