
Amanda Marfree era de luta, afeto, sensibilidade, sorriso fácil, gargalhada boa, posicionamento crítico, firme, doce; conquistava todas a sua volta com seu carisma único. Ao falar sobre Amanda, lembramos do abraço que confortava e também de que precisávamos estar sempre atentas para uma selfie ou uma live.
Este texto, escrito a várias mãos, é possível porque nos encontramos em maio de 2015 no Programa Transcidadania. E nesse contexto, tivemos a oportunidade de instaurar não apenas uma relação nossa de profissionais que atendiam a Amanda, mas de pessoas envolvidas no processo ético de transformação humana e, logo após, de colegas de trabalho.
No Programa Transcidadania, ficou conhecida como “A primeira de cem”. Era a primeira da lista de chamada, foi a primeira a se formar no Ensino Médio em uma escola da zona leste de São Paulo, onde só tinha ela de pessoa trans. Percebemos ali uma força ativa transformadora que mais tarde a tornou uma das militantes mais engajadas na pauta Trans. Foi uma das primeiras participantes a retificar o prenome no registro civil. Uma das primeiras a conseguir um emprego via CLT, quando passou a recepcionar a população que buscava suporte no Centro de Cidadania LGBT no Arouche.
Amanda também atuou como Agente de Prevenção pelo Projeto “Tudo de Bom”, onde virou referência para as profissionais do sexo travestis e transexuais da região do Parque do Carmo, levando além de insumos, informação e apoio para meninas que buscavam atendimento médico nos serviços de saúde.
No NUDHES, Amanda foi novamente a primeira no projeto Divas, participou também dos projetos Muriel, Trans*Nacional e Trans*Odara. Estava sempre interessada nas diversas iniciativas direcionadas às mulheres travestis e trans. Sua marca era a gentileza com toda a equipe e o comprometimento com as atividades.
Difícil não nos emocionar com tantas coisas que Amanda compartilhou, nos ensinou e vivenciou durante a sua trajetória. Lutou, desbravou e enfrentou inúmeras formas de transfobia e gordofobia, em especial os obstáculos no acesso ao mercado de trabalho, tanto formal quanto informal.
Hoje choramos, estamos verdadeiramente em luto, mas queremos que descanse em paz, pois o contexto de pandemia, quando analisado pelos atravessamentos de marcadores sociais, como gênero, raça e classe, não é democrático! Por isso é importante estarmos atentas e continuar nos cuidando. Iremos honrar o seu legado. Não tombaremos! Você foi, é e sempre será "A primeira de cem". Seguiremos em luta para que a população trans possa ter a sua cidadania legitimada e seus direitos garantidos.
“A sociedade nos colocou nesse espaço de invisibilidade, mas temos que sair e ocupar outros espaços e mostrar que temos representatividade, existem várias outras Amandas por aí e precisamos ocupar esses espaços e mostrar nossa importância” - Amanda Marfree
Texto: Millena, Paola, Symmy, Raphaela, Cíntia, Clair, Gabriela, Fabíola, Adriana, Zé Luís e equipe NUDHES
Meus sentimentos 😢
Tive o prazer de trabalhar com a Amanda Marfree no Centro de Cidadania LGBT, em 2015 por mais ou menos uns 6 meses, o pouco que a conheci e convivi, já dava para sentir a pessoa generosa, alegre,empatica e sempre em luta para que ela e tantas mulheres trans se tornassem visível. Muito triste essa perda, em todos os sentidos. Fica aqui os meus sinceros sentimentos.😌🙏🏾😪
Por mais seres humanos assim.
Lindo texto e homenagem!